Portal diz que só 9,5% dos garimpos de ouro estão dentro da legalidade
ANM justifica que faltam servidores, recursos e tecnologia
ANM justifica que faltam servidores, recursos e tecnologia
No Brasil, há 1.943 títulos para
mineração de ouro validados pela Agência Nacional de Mineração (ANM), mas
apenas 185 - ou 9,5% - estão em conformidade com os critérios legais da
atividade. A constatação é de levantamento feito pelo Portal da Transparência
do Ouro, plataforma que reúne dados oficiais sobre os garimpos legais do metal.
A ferramenta - mantida pela
organização não governamental WWF-Brasil - foi instalada para verificar se as
lavras de ouro estão associadas a práticas ilícitas ou irregularidades.
“A plataforma Transparência do
Ouro foi criada para auxiliar os órgãos públicos, do governo federal, em sua
maioria, para analisar a conformidade dos processos de produção de ouro a
partir de dados cruzados, especialmente da ANM, Ibama e imagens de satélite”,
opina o criador da ferramenta, Marcelo Oliveira, da WWF-Brasil.
Entre os aspectos analisados
figuram a validade da Permissão de Lavra Garimpeira, se a área requisitada
permite mineração, se há licenciamento ambiental protocolado, o pagamento
tributário obrigatório, a existência de embargos ambientais e o protocolo do
Relatório Anual de Lavra (RAL).
Títulos validados
Outra informação apresentada pelo
levantamento da plataforma é que, do total de títulos validados, 1.202 são para
atividades de pequeno porte, operadas por garimpeiros e não por indústrias da
mineração.
Além disso, segundo o Portal
Transparência do Ouro, dos 1.789 relatórios de lavra (RAL) identificados pela
plataforma, foram feitos apenas 371 pagamentos da CFEM (Contribuição Financeira
para Exploração Minerária), o imposto que incide sobre a atividade.
“Até que ponto esses relatórios de
lavra estão sendo usados para emular [simular] uma situação ilegal do garimpo?
O baixo percentual de recolhimento de impostos, por sua vez, sugere que o
garimpo não é uma atividade lucrativa. Isso corresponde à realidade? Essas
inconsistências, que a ferramenta traz à tona, apontam para a necessidade de
fortalecimento dos órgãos de fiscalização e controle que, com o portal, passam
a contar com cruzamento de dados que permite identificar os casos que exigem
investigações mais robustas, facilitando a priorização das demandas”, afirma
Oliveira.
Por meio de sua assessoria de
imprensa, a ANM informou que tem sistemas para acompanhar a situação do ouro,
embora eles tenham uma defasagem temporal em relação à comercialização do
metal.
Entre os mecanismos de controle
eletrônico estão os relatórios de CFEM, o Cadastro do Primeiro Adquirente, o
Relatório Anual de Lavra (RAL) e o Cadastro Mineiro. No entanto, de acordo com
a ANM, esses instrumentos estão sendo subutilizados em decorrência da falta de
recursos e investimentos.
A agência destacou, ainda, acordos
de cooperação técnica com estados e municípios para automação da fiscalização e
integração de sistemas; com a Casa da Moeda para desenvolver um sistema de
acompanhamento do ouro, desde sua produção até o destino final; e com a Polícia
Federal, para ações atuação conjunta em ações de inteligência, monitoramento,
controle, fiscalização e combate a crimes envolvendo atividades de mineração.
“Todavia, no que se refere à
organização e funcionamento da ANM, o cenário atual é cada vez mais crítico, e
envolve estrutura de cargos bastante limitada, quantitativo de servidores
extremamente reduzido, corte orçamentário frequente (de um orçamento que é o
menor entre todas as agências reguladoras) e um parque tecnológico aquém das
necessidades exigidas”, informa nota da ANM.
Ainda de acordo com a agência, a
instituição conta atualmente com 650 servidores efetivos, dos quais 205 estão
próximos da aposentadoria. Dos 895 cargos de especialista em recursos minerais
e dos 514 cargos técnicos instituídos por lei, só estão ocupados 295 e 36,
respectivamente.
“Nesse sentido, fica evidente que
é preciso que exista um olhar prioritário do governo federal para o estado
atual da ANM (incontestavelmente precário) e para a proposição de ações de
estruturação e modernização da agência”, acrescenta a nota.
Fortalecimento de controle
Por meio de sua assessoria de
imprensa, o Ministério de Minas e Energia (MME) informou que tem atuado para
fortalecer os órgãos de controle, como a ANM, e todas as iniciativas neste
sentido. “A Secretaria Nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral
(SNGM) acompanhará com atenção o conteúdo que será publicado no portal a partir
de seu lançamento”, diz nota.
No início deste mês, o MME havia
destacado que, em março deste ano, a ANM protocolou o pedido de abertura de
mais 1.072 vagas, sendo 589 para Especialistas em Recursos Minerais; 123 para
Analista Administrativo; 225 para Técnico em Atividades de Mineração; e 135
para Técnico Administrativo.
O MME ressaltou que está
trabalhando, junto ao Ministério da Gestão, para conseguir a autorização de
edital para um novo concurso público para área fim e administrativa.
No fim de maio, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva sancionou lei que, entre outras medidas, altera a
remuneração das carreiras e do Plano Especial de Cargos da Agência Nacional de
Mineração, equiparando o salário dos servidores com as demais agências
reguladoras do país.
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